Para muitas pessoas, beber uma chávena de café para começar o dia – mesmo sem comer e com o estômago completamente vazio – é um hábito do qual não abdicam. Mas, rezam os mitos urbanos, beber café em jejum faz mal. Será mesmo assim?
Há inúmeras teorias que garantem que o café sobre o estômago vazio provoca distensão abdominal, agride o intestino, provoca acne, queda de cabelo, ansiedade ou disfunções na tiroide. Um artigo recente do The New York Times foca-se em estudos científicos para confirmar teorias e desmistificar outras.
Kim Barrett, professora da Universidade da Califórnia e membro da American Gastroenterological Association explica que “o estômago pode resistir a todos os tipos de irritantes, incluindo o café”. “O estômago tem muitas maneiras de se proteger”, disse. Por exemplo, ele tem uma camada espessa de muco que cria uma espécie de escudo protetor entre o revestimento do estômago e tudo o que é ingerido.
De acordo com a mesmo especialista, seria necessário consumir uma substância muito agressiva “para que as defesas do estômago fossem violadas, porque está constantemente num ambiente muito adverso e prejudicial”, explicou.
Substâncias irritantes como álcool, fumo de cigarro e anti-inflamatórios como o ibuprofeno ou naproxeno alteram os mecanismos naturais de defesa do estômago e danificam o seu revestimento, pode ler-se no mesmo artigo do The New York Times.
O jornal norte-americano cita um estudo de 2013, realizado com mais de 8 mil pessoas que vivem no Japão, por exemplo, não encontrou nenhuma associação significativa entre o consumo de café e a formação de úlceras no estômago ou intestino, mesmo entre aqueles que bebem três a quatro chávenas por dia.
O café, mesmo na sua forma concentrada, provavelmente não causa danos objetivos ao estômago, concluem os especialistas. Porém, aumenta a produção de ácido no estômago, o que em algumas pessoas pode originar alguma azia. E este efeito, de facto, pode ser atenuado se existir comida no estômago.
No que diz respeito aos intestinos, o impacto já outro: o café tem, como tantos empiricamente já comprovaram, um efeito de aceleramento do cólon, induzindo a evacuação.
De resto, sabe-se que a cafeína que existe no café aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial, mas são alterações temporárias.
“Há muito mais evidências dos benefícios do café do que dos malefícios”, releva Byron Cryer, diretor de medicina interna do Baylor University Medical Center, em Dallas, nos Estados Unidos, que alerta para que se tenha cuidado com as teorias que são partilhadas pelas redes sociais.