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É mulher, empreendedora e vai subir o Kilimanjaro

O seu nome é Verónica Orvalho e tem um objetivo: angariar fundos para melhorar a acessibilidade à educação de crianças e jovens pelo mundo

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31 mai 2024, 10:00
Verónica Orvalho
Verónica Orvalho

No dia 15 de junho, Verónica Orvalho, fundadora e CEO da Didimo, vai subir a montanha mais alta de África, o Kilimanjaro. Objetivo: angariar fundos para melhorar a acessibilidade à educação de crianças e jovens pelo mundo. Conheça a história desta mulher, nascida na Argentina, mas com raízes portuguesas.

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Verónica Orvalho é licenciada em engenharia de software pela Universidade de Belgrado, mestre em desenvolvimento de videojogos pela Universitat Pompeu Fabra, doutorada em ciências da computação, na Universidade da Catalunha, distinguida com o EU Prize for Women Innovators, em 2021, e fundadora e CEO da Didimo empresa que desenvolve avatares 3D que se assemelham a humanos em apenas 90 segundos.

Mas a par da intensa atividade profissional, um dos seus maiores desafios tem lugar dentro de duas semanas: subir a montanha mais alta de África, o Kilimanjaro, inserida num grupo de nove mulheres e no âmbito de uma campanha de angariação de fundos para melhorar a acessibilidade à educação de crianças e jovens pelo mundo.

Recentemente, a Verónica decidiu aventurar-se numa campanha de angariação de fundos. Pode falar-nos mais deste projeto?
A iniciativa KiliClimb4Kids tem como objetivo empoderar a geração mais nova a alcançar o seu máximo potencial através da educação. De forma a abraçarmos esta missão, juntámos um grupo de nove mulheres e um homem corajoso que se comprometeram a contribuir para transformar o mundo. Vamos fazê-lo ao subir o Kilimanjaro, no dia 15 de junho, com o objetivo de apoiar um conjunto de escolas na Tanzânia e de angariar fundos a distribuir depois por três associações que são uma inspiração para todos nós: a MiDesk Global Africa, LIFT Ireland e ACAS Argentina.

A pouco menos de um mês deste desafio, estamos expectantes pelo que ainda podemos conseguir da campanha. O nosso objetivo máximo é angariar 60 mil euros. Neste momento, já temos pouco menos de 12 mil, que foi fruto de donativos tanto de amigos como de pessoas que ficaram sensibilizadas por esta iniciativa. Para nós é um verdadeiro desafio de superação, mas no final vai valer a pena.

As associações que iremos apoiar nasceram de um potencial inovador e empreendedor, que queremos reconhecer e honrar com esta causa. A MiDesk Global Africa, com o seu design criativo, é um projeto que visa promover uma maior independência na performance estudantil e diminuir desigualdades económicas, ao oferecer uma mochila escolar, que se converte ainda numa secretária individual portátil. A LIFT Ireland, com o seu trabalho imprescindível, procura promover competências de liderança e empreendedorismo junto das comunidades. E a ACAS Argentina, com a sua missão inspiradora de alcançar as comunidades mais remotas, ao levar a educação através da construção de “escolas-fronteiras”. São três projetos distintos, mas com um potencial incrível de contribuir para um mundo mais justo, onde a educação é uma alavanca social e pode mudar o rumo da vida de tantas crianças e jovens.

Como surgiu esta ideia?
Na verdade, esta ideia começou numa conversa de jantar. Muitas de nós não nos conhecíamos, mas estávamos todas a participar no mesmo evento, a conferência anual do EY Winning Women. Todas partilhamos a mesma paixão por causar um impacto positivo no mundo e somos todas CEO de empresas e então, quando demos por nós, comprometemo-nos a subir o Kilimanjaro para apoiar estas iniciativas. A Farana Boodhram, que é também uma das promotoras desta campanha de angariação de fundos, foi quem lançou o desafio quando nos falou desta ideia e, de repente, estávamos todas empenhadas e motivadas nesta missão. Acreditamos que podemos e devemos contribuir para um mundo melhor, onde o potencial humano e a educação são as armas mais eficazes para um futuro mais justo, onde é respeitada a individualidade de cada pessoa e onde são dadas oportunidades para causar um impacto positivo.

Quem são as empreendedoras que irão subir consigo a montanha mais alta de África, o Kilimanjaro?
Somos dez empreendedoras que são apaixonadas pela possibilidade de contribuir para um mundo melhor, entusiastas pela natureza e pela educação, mas também pela inovação e empreendedorismo. Quem nos conhece descreve-nos como corajosas, aventureiras e com espírito de iniciativa. Somos mulheres com negócios empreendedores e defensoras do potencial humano e criativo para marcar a diferença.

Acreditamos fortemente que esta é ainda uma excelente oportunidade de impactar as nossas famílias e aqueles que nos rodeiam a perceberem que, com dedicação, determinação e paixão, somos capazes de superar quaisquer adversidades e alcançar tudo aquilo a que nos propomos fazer. Estamos longe de ser as mais capazes fisicamente, nem somos atletas profissionais, mas estamos fortemente empenhados nos nossos treinos e em trabalharmos em equipa para cumprir esta meta.

Quem é Verónica Orvalho? Como se define?
Diria que sou uma entusiasta pela vida. Sou professora, engenheira, mãe, fundadora e CEO da Didimo. Empreendedorismo, inovação, tecnologia e educação são as áreas que mais me apaixonam, assim como as muitas formas de comunicar, aprender e partilhar conhecimento com o outro. Sou licenciada em engenharia de software pela Universidade de Belgrado, mestre em desenvolvimento de videojogos pela Universitat Pompeu Fabra e completei ainda o meu doutoramento em ciências da computação e computação gráfica na Universidade da Catalunha. E é neste ramo que tenho trabalhado ativamente.

Gosto de me considerar uma promotora para transformação digital, com o meu trabalho de investigação no campo da tecnologia em reconhecimento facial, no qual já levo mais de 20 anos de pesquisa e conhecimento, que me permitiu criar a Didimo de que tanto me orgulho. Acredito na capacidade de mudar o mundo através do nosso empenho e dedicação no empreendedorismo e, com esta visão, já tive o privilégio de conquistar o prémio “Women Who Tech Award”, em Nova Iorque, um “IBM Scientific Award”, um “Women Entrepreneurship Award” pela Universidade Católica de Lisboa, um “EY Winning Women”, entre outros. Mas isso não significa que o meu trabalho esteja concluído. Pelo contrário, sei que ainda tenho muito a conquistar e descobrir no ramo da tecnologia e quero contribuir com esse conhecimento para transformar o mercado empresarial.

Integrou recentemente o grupo de 48 embaixadores do Conselho Europeu de Inovação. Qual é o seu papel enquanto embaixadora da EIC?
No fundo, é ser uma embaixadora para a Inovação, ao promover e apoiar empreendedores e empresas inovadoras na Europa. O meu papel passa por conseguir inspirar e motivar esses negócios inovadores e cheios de potencial para transformar a sociedade. Faço-o através de orientação e mentoria, mas também com a partilha das minhas experiências pessoais e na Didimo. Desta forma, posso ser parte ativa na criação de um ecossistema de inovação na Europa forte e coeso, onde talentos emergentes, parceiros e stakeholders têm oportunidade de fortalecer relações de colaboração e networking, onde novos negócios encontram um meio de apoio para se desenvolverem e onde novos empreendedores podem encontrar uma rede de motivação e inspiração para continuar nesta jornada.

Como conseguiu criar um negócio de sucesso com a Didimo?
Didimo é resultado de 14 anos de investigação na área de criação de personagens virtuais. Nasceu com a missão de colmatar a falta de humanização nas conexões digitais, como as emoções, a expressividade e as subtilezas de cada um e, simultaneamente, contribuir para uma automatização e otimização da produção de digital humans de alta-fidelidade. A tecnologia avança de forma acelerada e disruptiva, obrigando-nos a repensar como nos relacionamos com o outro. Neste mundo gradualmente mais digital, a internet é um desafio, mas simultaneamente uma oportunidade de, mesmo ao longe, nos irmos conectando uns com os outros cada vez mais. Esta necessidade de humanizar as interações virtuais foi o que nos motivou a criar a Didimo e o que acredito que também seja o fator diferenciador do nosso negócio.
 

Será que vamos mesmo viver num metaverso?
Eu diria antes que estamos cada vez mais imersos na tecnologia e esta evolução tecnológica está a levar-nos a uma era de 3D e a uma realidade em que, não só interagimos com ecrãs, como somos parte integrante destes. É engraçado que, à medida que o mundo tecnológico vai evoluindo, a nossa busca por tornar esse mundo tecnológico mais humano evolui também. No digital, preocupamo-nos com a forma como representamos o nosso “eu”, como criamos essas relações interpessoais e como podemos manter uma identidade no tecnológico. O caminho para chegarmos a um cenário em que o metaverso seja uma realidade em que vivemos tem de passar por conseguirmos presenciar e sentir a 100% o que está a acontecer nesse local online. No entanto, é inevitável que se fale numa identidade digital a 3D.

Quais os desafios para tornar o mundo digital mais humano?
Vivemos num mundo cada vez mais tecnológico e, provavelmente, nunca existiram tantas possibilidades para as pessoas se conectarem como agora. No entanto, quando a comunicação é realizada por intermédio da tecnologia, acaba por se perder o lado humano das relações. A falta de empatia, de toque humano, do contacto cara a cara é dos maiores desafios nesta missão de quebrar barreiras entre o mundo físico e o mundo virtual, mas querer uma identidade digital o mais humana possível não é um contrassenso, é sim olhar para o futuro.
Apesar dos seus desafios, vejo na tecnologia uma ferramenta que pode estar ao uso da educação e esse é o meu maior desejo com o trabalho que tenho vindo a desenvolver na indústria: levar a educação a todas as partes do mundo através da internet, especialmente às mais remotas.

Quais os cuidados que devemos ter no metaverso?
Caminhamos num sentido de humanizar a tecnologia, de tornar a nossa identidade digital cada vez mais humana. Só faz sentido e só conseguiremos pensar nesse cenário se as nossas representações em 3D forem autênticas, genuínas e quebrarem mesmo barreiras entre o offline e o online. A nossa identidade tecnológica tem de ser uma representação do nosso “eu” e esse é o principal cuidado que devemos ter.

Que legado quer deixar no mundo?
Gostava que o meu trabalho contribuísse para desafiar os limites atuais do meio tecnológico e que me permitisse contribuir para criar relações mais humanas no digital. Estou a trabalhar para essa finalidade, mas gostava que o meu legado passasse por trazer a riqueza da interação humana para todos os contactos digitais que tivermos e que, através da tecnologia, conseguíssemos levar a educação a todas as partes do mundo, especialmente às mais isoladas. A tecnologia tem o potencial de ser uma ferramenta incrível ao uso da educação, mas é preciso que haja esse investimento.
Com o meu trabalho, espero também impulsionar e inspirar outros negócios no meio tecnológico a crescerem e a desenvolverem-se. Quero contribuir com a arma mais poderosa que existe, a educação, para uma mentalidade forte e enraizada no poder do empreendedorismo e da liderança para mudar o mundo.

 

Esta entrevista foi feita no âmbito da colaboração com o Link to Leaders

 

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