Num país onde o custo das casas tradicionais continua a subir, as casas pré-fabricadas parecem uma solução tentadora. São rápidas de montar, prometem eficiência energética e preços competitivos.
Mas será mesmo um investimento seguro? Antes de decidir, há vários fatores a analisar: do terreno ao licenciamento, passando pelos custos escondidos e pelas limitações no crédito habitação.
Licenciamento: As mesmas regras que uma casa tradicional
Apesar de serem rápidas de montar, as casas pré-fabricadas não escapam à burocracia. O Regime Jurídico da Urbanização e Edificação exige os mesmos passos que uma construção convencional:
- Submissão do projeto de arquitetura à Câmara Municipal;
- Entrega dos projetos de especialidades (esgotos, eletricidade, gás e água);
- Pedido de licença de construção antes do início da obra;
- Obtenção da licença de habitação após vistoria final;
- Registo na Conservatória do Registo Predial e comunicação à Autoridade Tributária.
Além disso, o terreno tem de ser apto para construção, respeitando o Plano Diretor Municipal e fora de áreas RAN ou REN. Deve ainda ter acesso a água, eletricidade e vias públicas.
Quanto custa realmente uma casa pré-fabricada?
O preço depende dos materiais, acabamentos e localização. Em média:
- Madeira: 600 a 1.000 €/m²;
- Aço leve: 800 a 1.200 €/m²;
- Betão: 1.000 a 1.500 €/m²;
- Projetos premium: acima de 2.000 €/m².
Uma casa de 100 m² pode custar entre 60.000 e 200.000 euros. Mas há custos adicionais que não deve ignorar:
- Terreno: de 20.000 € nas zonas rurais a mais de 80.000 € nas periferias;
- Licenciamento e projetos: 3.000 a 7.000 €;
- Fundações: 5.000 a 15.000 €;
- Ligações às redes: 2.000 a 8.000 €;
- Transporte: até 6.000 €;
- Montagem: cerca de 7.500 €.
No total, a poupança face a uma casa tradicional pode ser menor do que parece.
Critérios que fazem toda a diferença antes de avançar
Fabricante e reputação: escolha empresas com experiência comprovada. Em Portugal, destacam-se marcas como Goodmood, KITUR, VanguardOption, Fábrica das Casas e Rusticasa.
Projeto e design: algumas zonas exigem respeitar regras urbanísticas. Confirme sempre junto da Câmara Municipal antes de assinar.
Materiais e manutenção: casas em madeira precisam de tratamento regular. Estruturas em aço ou betão exigem menos cuidados.
Certificação energética: essencial para garantir conforto e poupança. Exija sempre o certificado energético e térmico antes de fechar negócio.
Terreno e localização: prefira terrenos urbanos e verifique a viabilidade de construção. A falta de licenças pode bloquear todo o processo.
Financiamento de uma casa pré-fabricada: A grande barreira
O acesso a crédito continua limitado para casas pré-fabricadas. A Caixa Geral de Depósitos é o único banco com um produto específico - o Crédito Habitação Casas Pré-Fabricadas.
Condições principais:
- Prazo máximo: 25 anos (até aos 75 anos no final do contrato);
- Montante mínimo: 5.000 €;
- Montante máximo: até 80% do valor de avaliação (ou 90% se inferior ao investimento);
- Exige hipoteca e pode reduzir o spread com produtos adicionais do banco.
Na prática, a regra dos 90% raramente se aplica. Nos restantes bancos, o financiamento pode ser feito por meio de um crédito habitação com condições pouco vantajosas ou por um crédito pessoal, com juros mais altos e prazos mais curtos.
Atenção aos seguros
Nem todas as seguradoras cobrem casas pré-fabricadas, sobretudo as de madeira. Quando aceitam, os prémios são mais caros e as coberturas mais limitadas.
Vale a pena investir em casas pré-fabricadas?
As casas pré-fabricadas são uma solução moderna, eficiente e sustentável. Mas exigem planeamento, cuidado com os detalhes e análise rigorosa dos custos.
Para quem tem capital próprio e quer uma casa pronta em poucos meses, podem ser uma boa aposta. Para quem depende do banco, a burocracia e o financiamento continuam a ser o maior desafio.