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Uma mesa sobre o Atlântico: o encanto da Casa de Chá da Boa Nova na companhia de Matt Preston

Erguido sobre as rochas de Leça da Palmeira e classificado como Monumento Nacional, o restaurante Casa de Chá da Boa Nova, detentor de duas estrelas Michelin, é uma obra-prima projetada pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, um espaço que transcende a arquitetura e transforma cada refeição numa experiência sensorial e narrativa. Um dos restaurantes mais bonitos do mundo!

Mafalda Agante
7 out, 11:31

Sob a liderança, precisão e arte dos chefs Rui Paula, Catarina Castro Correia e Ana Mafalda Cardoso, cada prato ganha vida, fruto da mestria de toda a equipa, com harmonização do Sommelier Carlos Monteiro. O menu de degustação transforma-se numa travessia pelo mar, pelo território e pela tradição portuguesa, reinterpretada de forma contemporânea e sofisticada. Inspirados pelo espírito de Camões, “Por mares nunca de antes navegados”, os chefs conduzem-nos por horizontes de sabor, técnica e emoção, onde cada detalhe da mesa é uma página desta epopeia gastronómica.

Recebi o meu querido amigo Matt Preston, que todos conhecem enquanto jurado do mítico Masterchef Australia. Este foi um dos locais da Invicta que considerei obrigatório que ele conhecesse.

Assim que chegamos, somos recebidos por uma equipa atenciosa, em contraste com o cinzento no horizonte, mas felizmente o sol acabou por surgir timidamente durante o almoço. Pois que eu prefiro o mar iluminado e em tons claros. Já o Matt ficou encantado com as rochas que espreitavam por entre o nevoeiro e um vislumbre de mar ao fundo.

O restaurante apresenta várias opções à carta e menus de degustação. Experimentámos o mais completo, com 21 momentos, além de alguns "miminhos extra". Não contarei todos os segredos do menu, para que quem o experimentar possa sentir cada surpresa sem "spoilers".

A travessia começa com um amuse-bouche, seguido pelo Canto I - Carvão / Amêijoa, que traz à mesa a amêijoa-macha da Ria de Aveiro, proveniente de apanha monitorizada de forma sustentável. É o primeiro sinal de que esta experiência se constrói sobre um compromisso com a origem e a qualidade.

Segue-se o Canto II - Milho / Frutos do mar, que utiliza aparas de marisco e milho amarelo, numa celebração do aproveitamento integral e da delicadeza dos sabores. Sofisticação aliada à sustentabilidade, o Canto III - Choco / Nori, Choco do estuário do Sado combinado com nori, evocando tradição artesanal e profundidade de sabor. E o Canto IV - Sururu / Tapioca: mexilhão de Setúbal - Sines com rebentos de mizuna e tagete. Um prato que celebra a costa portuguesa e os pequenos produtores, apresentados num trio de miniaturas.

O Canto V - Polvo / Pepino doce homenageia Santa Luzia, no Algarve, região onde o polvo é capturado de forma responsável, apresentados em três formas.

O Canto VI Lírio / Rábano / Jalapeño leva-nos até São Miguel, nos Açores, com um peixe pescado à linha que se destaca pela frescura, despertando os sentidos com equilíbrio e delicadeza.

Há ainda a delicadeza do Canto VII - Ostra / Atum, da ria Formosa, num prato onde salinidade e untuosidade se encontram na perfeição. E a elegância do Canto VIII - Vieira / Sapateira, vindos de várias zonas da costa portuguesa.

Chega o pão, brioche e azeite orgânico. E devo dizer, que massa brioche fantástica! Sabor amanteigado como se quer, estava perfeito!

A viagem prossegue com o Canto IX - Lagosta / Codium. Lagosta da Costa Vicentina, apanhada artesanalmente, acompanhada de algas codium.

Segue-se o belíssimo Canto X - Robalo no seu habitat, da Costa Vicentina ou de Peniche, valorizando a pesca artesanal e sustentável, acompanhado de plantas halófitas da Ria Formosa, servido como se fosse uma pintura marinha. Este prato lembra um quadro em que o mar e um jardim se unem. Sem dúvida um dos meus preferidos! Que momento inesquecível, técnica e empratamento perfeitos. Um bailado que surge enquanto se abrem as janelas automaticamente, tudo cronometrado e entra a maresia pela sala do restaurante. Como superar este momento?

Altura para o Canto XI - Gamba Roja / Brócolos / Lima Kaffir apresenta Gamba vermelha do Mediterrâneo, apanhada de forma sustentável, com rebentos de verbena, lemon balm e gyopsophila. Frescura, textura e notas cítricas. Também um dos que mais apreciei.

E eis que é apresentado outro prato inesquecível: esteticamente, na técnica e no sabor. O Canto XII - Carabineiro / Salsafi: carabineiro servido com rebentos de feather tops e sancho. Finalizado, na sala, com raspas de limão Mão de Buda, intensidade e aroma em perfeita combinação. Assim o meu coração e palato não aguentam com tanta emoção!

O Canto XIII - Lavagante / Ananás traz o Lavagante azul da costa norte, com ananás e flor de manjericão-thai. Contraste de maresia e doçura.

Já o Canto XIV - Lagostim / Sopa Coreana, apresenta um lagostim da Escócia, servido num caldo coreano, homenagem à tradição artesanal.

Quase a terminar, eis o Canto XV - Salmonete / Espargos - Salmonete da Costa Vicentina, pescado à linha, servido com espargos e rebentos. Sofisticação em cada detalhe.

Mesmo a tempo da Fashion Week, um dos pratos mais apreciados esteticamente surge no Canto XVI - a famosa Lula “Chanel”. Lula dos Açores de grande porte, apanhada de forma sustentável e lula comum, apanhada na costa norte (Matosinhos, Viana do Castelo, Vila do Conde), combinando técnica e delicadeza num prato visualmente impactante.

Por último, antes das gulodices, eis o Canto XVII - Peixe Galo / Lingueirão / Quinoa: Peixe-Galo (de Peniche, Nazaré, Ericeira, Sines, Sagres), lingueirão e quinoa, finalizado com oxalis. União perfeita entre mar, terra e frescura vegetal.

Com o Canto XVIII – Déjà Vu (lima e coco), a equipa de sala brinca com o facto de ser muito semelhante ao canto IX, mas aqui numa surpresa adocicada.

Altura de conhecer a cozinha e a fantástica equipa que prepara esta degustação estonteante. Brindamos com um Vinho do Porto, uma preparação para o epílogo doce, criado pela chef de pastelaria Ana Mafalda Cardoso, que transforma cada sobremesa numa obra-prima, encerrando esta travessia gastronómica. Já conhecia a chef quando realizei reportagem no restaurante DOP, por isso estava com as expectativas lá em cima.

E a primeira sobremesa não desiludiu, eis o Canto XIX - Colheita Tardia: uma ode ao vinho português: sorbet de colheita tardia de Vila Nova de Famalicão, cremoso e toffee de mel rosmaninho (honeycomb), crocantes de Vila Real, bolo de noz pecan, alperce seco, granola artesanal, geleia de uva e uvas nitrogenadas. Cada elemento é uma nota desta sinfonia vínica. Não havia como melhorar!

De seguida chega o Canto XX - Do Algarve com Amor, desta vez fomos para a esplanada aproveitar o sol. Neste prato, citrinos e frutos secos transformam-se numa carta de amor ao sul. Namelaka de queijo de cabra e alfarroba, brownie e crumble de amêndoa, gelado, cascas de citrinos confitadas e um delicado perfume de flor de laranjeira - frescura, textura e memória num só prato.

Por fim, já a espoletar saudade, chega o Canto XXI - Chocolate / Milho / Batata-doce. Inspirada na bebida de chocolate dos Aztecas, esta sobremesa é um manifesto de especiarias e contrastes. Mousse de chocolate com base de água, gel de Aji e Achiote, namelaka de baunilha, gelado de milho e manga, e um pudim de batata-doce que encerra a viagem com calor e exotismo.

E não é que não consegui escolher a minha sobremesa preferida das três? Quando nos deparamos com perfeições, é esse o resultado! As sobremesas são a apoteose da experiência, uma conclusão que fica gravada na memória. E tudo isto com uma vista que é, por si só, uma celebração da beleza, transformando o menu num momento de contemplação!

Ah, não posso deixar de referir as maravilhosas mignardises no final, que acompanham o café ou chá. Quero agradecer também ao Pedro Novais, Emanuel Teixeira e a toda a equipa! E não esquecendo a paciência que tiveram para que eu conseguisse fotografar e filmar tudo. Muito obrigada! Foi realmente inesquecível! E, claro, não poderia ter estado em melhor companhia.

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