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“Se os valores são as nossas raízes, saibamos cuidar bem da nossa árvore”

É raro uma pessoa apresentar-se e falar dos seus valores, ou de os publicar no seu currículo ou nas suas redes sociais. Mas, se estivermos atentos, os valores falam por si, através de ações, com coerência e consistência.

Rita Nabeiro, CEO da Adega Mayor
24 jun 2023, 10:00
Rita Nabeiro CEO da Adega Mayor
Rita Nabeiro CEO da Adega Mayor

“Abre os teus braços à mudança, mas não abras mão dos teus valores.”

Dalai Lama

Esta frase poderia resumir toda esta reflexão. Fala de evolução e crescimento, sem nos perdermos de quem somos. Fala de abraçar o desconhecido e inovação, sem abrir mão dos nossos valores mais profundos.

E que valores são esses? Poderão variar em função do lugar onde nascemos, da nossa religião, da nossa educação e da forma como escolhemos conduzir a nossa vida.

É raro uma pessoa apresentar-se e falar dos seus valores, ou de os publicar no seu currículo ou nas suas redes sociais. Mas, se estivermos atentos, os valores falam por si, através de ações, com coerência e consistência.

Então porque é que hoje, no mundo corporativo, a maioria das empresas torna pública a sua missão, visão e os seus valores? Palavras como honestidade, humildade, transparência, confiança, inovação, criatividade, liderança, entre outros, fazem parte do léxico de muitas organizações.

A marca Lego, por exemplo, publica no seu site os seguintes valores: imaginação; diversão; cuidar; criatividade; aprender e qualidade. Estes valores têm de existir de dentro para fora. A marca tem de praticar os valores que apregoa, mas mais do que nunca os consumidores procuram marcas que estejam alinhadas com aquilo em que acreditam. E existe um escrutínio cada vez maior em relação às mesmas.

Já Roy Disney afirmou que “Quando os valores são claros, as decisões são fáceis”. De facto, tudo se torna mais simples quando marcamos as nossas linhas vermelhas de atuação, seja no plano individual ou coletivo. Sabemos o que nos norteia, o que queremos e, sobretudo, o que não queremos.

Mas mais do que meras palavras, os valores têm um grande poder transformador quando colocados em prática. É essa prática que dá forma ao que conhecemos por cultura ou cultura corporativa, se quisermos aplicar este conceito ao mundo empresarial.

Mas o que acontece quando os valores que afirmamos defender não correspondem a essa conduta? Se a cultura em que nos encontramos se torna tóxica? A curto ou longo prazo, haverá erosão e desmotivação. A longo prazo poderá inclusivamente haver uma implosão dessa organização.

De nada nos serve escrever e afixar numa parede palavras bonitas, se as mesmas não forem uma prática diária. Se o exemplo que vem de cima não coincidir com a linguagem que usamos. Ao revés, se esses valores forem claros e praticados, a comunicação terá um papel amplificador e agregador.

Se os valores são crenças profundas, o propósito é o nosso porquê. Aquilo que nos move, a marca que queremos deixar no mundo. E pode ser uma força transformadora para construir uma sociedade melhor. A cultura de uma organização corresponde, em grande medida, aos seus valores em movimento. É a consistência dentro da diversidade. É a coerência na multiplicidade.

É por isso que “não podemos achar que somos. Temos de trabalhar para continuar a ser.” Esta frase foi repetida até à exaustão pelo meu avô, Rui Nabeiro. Era um empresário, mas acima de tudo um humanista. Alguém que viveu os seus valores, como a integridade, consistência, proximidade, otimismo e a confiança, até aos seus últimos dias de vida.

Valorizava uma visão de longo prazo versus uma maximização dos lucros a curto prazo. Arriscava sem ser despesista. Inovava sem ser conservador. Foi essa maneira de ser e esse exemplo de vida, que transferiu para a organização que fundou. Os seus valores fundiram-se com a Delta e muitos deles passaram a ser os nossos.

Num mundo em que falamos da erosão de valores e de descrédito de muitos líderes, seja na esfera corporativa ou política, precisamos de lideranças inclusivas, humanas e empáticas. Que usem a sua voz e ação para construir uma sociedade melhor. Se os valores são as nossas raízes, saibamos cuidar bem da nossa árvore, para que se renove e fortaleça com a passagem do tempo e para que nunca deixe de se reinventar.

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