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As imagens de um ‘shopping’ transformado em centro de refugiados na Polónia

Era um ‘shopping’ e havia planos para o demolir e fazer outro no seu lugar, mas a guerra na Ucrânia mudou tudo e um destacado empresário de moda da Polónia converteu-o num centro de refugiados no leste do país.

Fonte: Agência Lusa

Henrique Botequilha (texto) e Miguel A. Lopes (fotos), agência Lusa, em Przemyśl, Polónia

A palavra passou depressa e logo na quarta-feira, dia da “inauguração” deste lugar insólito na cidade fronteiriça de Przemyśl, onde dantes reluziam lojas entretanto encerradas e nos amplos corredores frequentados pelos clientes, estão agora dezenas de refugiados da Ucrânia, em instalações improvisadas com colchões, mantas e almofadas espalhados pelo chão.

A maioria tinha acabado de chegar à estação da cidade num comboio com cerca de quatro mil pessoas, em fuga do conflito provocado pela invasão russa, na maioria mulheres, crianças e adolescentes, no dia em que o Alto Comissariado da ONU para os refugiados elevava para mais de 800 mil o número de fugidos da Ucrânia para países vizinhos, cerca de metade para a Polónia.

Por trás desta ideia de conversão está Artur Kazienko, um empresário polaco de 55 anos que fundou e internacionalizou a marca de moda Kazar e fez o proprietário do ‘shopping’ adiar os planos para o espaço comercial e concessioná-lo com vista a se tornar num espaço humanitário.

“Estamos muito ligados à Ucrânia e fizemos isto porque há uma guerra a 12 quilómetros daqui e eles precisam da nossa ajuda”, afirma à Lusa o empresário, acrescentando que não deseja que este seja um centro de refugiados qualquer, tendo já entregado a sua posição de diretor-executivo da marca a outros gestores para se dedicar ao novo projeto a tempo inteiro.

Kazienko quer envolver especialistas em logística, grandes eventos, mobiliário, geradores e ainda outros grandes empresários do país no patrocínio desta ideia: “Até agora, ainda não precisei de gastar um euro”, declara no intervalo de monitorização de obras já em curso, num local que acaba de abrir na sua nova vocação e sem prazo para encerrar.

“Quem me dera que fosse amanhã, seria um sonho, mas todos sabemos que isso não vai ser possível porque já se foi longe demais”, lamenta.

No local já se instalaram Alexandra, 23 anos, e Tanya, 19, que fugiram de Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia, logo no primeiro dia que sentiram explosões, juntamente com a prima Antónia, 27, e os seus dois filhos de 8 e 5, que acabam de receber duas fatias de pizza, oferecidas pelos voluntários de apoio aos refugiados e que também já se instalaram no local.

Outro primo ficou na região, respondendo ao apelo de mobilização geral do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que os homens se juntassem às forças de defesa e protegessem o país.

“Temos medo, mas as nossas almas ficaram lá e só queremos voltar o mais depressa possível”, afirma Alexandra, sentada junto de uma antiga loja de artigos de motociclismo e onde permanecerá até que os pais, residentes na Polónia, vão buscar a família.

Os restantes corredores e lojas do velho ‘shopping’ refletem o padrão da chegada em massa de refugiados a Przemyśl, na maioria mulheres, jovens e crianças, que ficaram sem casa de um dia para o outro e fugiram com malas e mochilas pequenas, alguns acompanhados com os seus cães e gatos, há poucos homens e são todos idosos, e ainda alguns cidadãos asiáticos, também apanhados de surpresa pela invasão da Rússia.

É o caso Sujiw, 37 anos, do Sri Lanka, que viajou 21 horas de Kiev, onde vendia chá, até ao antigo ‘mall’ de Przemyśl e agora só pensa em juntar-se a familiares na Alemanha.

Ou de Vijay, também proveniente de Kiev, que analisa ao telefone com um tio na Índia a melhor forma de sair dali e voltar ao seu país.

Entretanto, no mesmo dia, chegaram mais comboios à cidade polaca e à noite o novo centro de refugiados já tem muito mais gente e mais voluntários aparecem para os ajudar.

No exterior, erguem-se tendas de fornecimento de roupas e vários bens, as pessoas aquecem-se em fogueiras improvisadas, num vasto parque de estacionamento, também ele transformado e que agora é um terminal rodoviário de autocarros para várias cidades polacas e do centro e do leste da Europa e a Ucrânia ficará ainda mais longe.

 

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