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Melanie pagou para ter sexo pela primeira vez aos 43 anos. História chama a atenção para a sexualidade na deficiência

"A minha confiança aumentou bastante, estou mais feliz do que nunca e não se pode colocar um preço nesta experiência de mudança de vida”, diz

IOL
11 mai 2023, 11:33
Melanie Foto: BBC
Melanie Foto: BBC

A história, um gatilho para a reflexão sobre uma vida sexual acessível a todos, foi contada na primeira pessoa no podcast semanal da BBC dedicado aos temas ligados à deficiência e inclusão. Melanie, uma mulher de 43 anos presa a uma cadeira de rodas desde os três por uma má formação na espinal medula, decidiu contratar um prostituto para ter sexo pela primeira vez.

A vontade de dar este passo surgiu quando esteve em isolamento na pandemia. A australiana prometeu a si mesma que pagaria para perder a virgindade quando o mundo voltasse à vida normal, acabando com a ansiedade e o tabu com que viveu toda a vida perante temas como o amor e a sexualidade.

A sugestão partiu da sua assistente domiciliária, ela própria uma antiga acompanhante sexual, como contou à BBC. "Apenas abriu os meus olhos para o facto de que talvez eu pudesse experimentar", contou Melanie no BBC Access All. No site de uma agência de acompanhantes, escolheu o perfil do homem que mais lhe agradou e foi assim que conheceu Chayse.

Acompanhada pela sua assistente, deslocou-se ao apartamento do acompanhante. "Quando saí da cadeira de rodas e a minha assistente saiu, éramos só nós os dois. Eu não tinha ideia do que iria acontecer”, recorda. Mas, correu bem, e Melanie continua a usar regularmente os serviços de Chayse. Porém, admite, procura agora uma relação real, que não seja a troco de dinheiro. 

"A minha confiança aumentou bastante, estou mais feliz do que nunca e não se pode colocar um preço nesta experiência de mudança de vida”, defende. A mulher não conseguiu deixar de partilhar a felicidade com a família e os amigos. "Fiquei um pouco envergonhada no início, mas isto fez uma diferença tão grande na minha vida... Simplesmente não consegui deixar de contar às pessoas e estão todos muito felizes por mim. Não consigo tirar o sorriso da cara”, partilha.

Estarão Melanie e o seu acompanhante a cometer um crime ou uma ilegalidade? Em muitos estados australianos, a Lei da Prostituição, aprovada em 2000, considera ilegal o trabalho sexual nas ruas ou a existência de espaços comerciais de prostituição, mas a prostituição não é ilegal e as agências de acompanhantes são autorizadas.

As relações íntimas são bastante intimidantes para quem vive com deficiência, já que o mundo nem sempre reconhece as pessoas com deficiência como seres sexuais. A notícia da BBC refere um inquérito realizado no Reino Unido, divulgado em 2021, que conclui que apenas 56% da população disse que se sentiria confortável num contacto íntimo com uma pessoa com deficiência.

Em debate: sexualidade nas pessoas com deficiência em Portugal

Catarina Oliveira criou a página de Instagram “Espécie rara sobre rodas”, na qual fala abertamente sobre os desafios das pessoas com deficiência, incluindo o amor e a sexualidade. Por isso, foi convidada para as Pfizer Talks, um projeto de literacia em saúde da farmacêutica, num episódio em que os convidados foram desafiados a "partilhar a sua perspetiva e experiência em conversas sobre orientação sexual, sexualidade nas diferentes fases da vida, tabus e desinformação da sexualidade, entre outros".

“Por inúmeros estigmas, muitas vezes, a sexualidade da pessoa com deficiência não é considerada. Pensa-se que, pelo facto de as pessoas com deficiência serem mais dependentes fisicamente, não têm autonomia sobre as suas decisões e isso tem um impacto enorme, nomeadamente na vida sexual. O conceito de dependência e autonomia tem de ser muito bem distinguido”, diz Catarina Oliveira.

Veja a conversa: 

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