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Alterações climáticas: investigadores estudam como mitigar os efeitos nas vinhas do Douro

Projeto chama-se VineProtect e quer melhorar resiliência das vinhas do Douro

Agência Lusa
11 ago 2023, 10:59
Douro Foto Maksym Kaharlytskyi, Unsplash
Douro Foto Maksym Kaharlytskyi, Unsplash

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lideram um projeto que visa estudar "estratégias verdes" para mitigar os efeitos das alterações climáticas nas vinhas da região do Douro, foi hoje anunciado.

O projeto, intitulado VineProtect, pretende "melhorar a resiliência" das vinhas, transpondo para o setor vitivinícola o que é feito na medicina, ou seja, "encarando o microbioma como parte estruturante da planta", adianta hoje a FCUP.

Entre os objetivos dos investigadores encontra-se o desenvolvimento de soluções à base de fungos vivos para combater outros fungos e doenças comuns na vinha, bem como a criação de um bio-hidrogel a partir de resíduos da poda.

Citada no comunicado, a investigadora líder, Conceição Santos, salienta que o projeto "incide sobretudo nas vinhas da região do Douro, uma vez que são um 'terroir' [extensão de terra cultivada] muito ameaçado pelas alterações climáticas".

Nesse sentido, os investigadores pretendem encontrar estratégias para mitigar o impacto da diminuição da precipitação, do aumento da temperatura e da incidência de patogénicos.

"Pretendemos apostar na proteção sustentável das doenças da vinha, na caracterização do património genético do microbioma da região e em melhorar a gestão sustentável do solo", acrescenta a docente, notando que no iB2 - Integrative Biology and Biotechnology Laboratory da FCUP estão já a ser criadas e estudadas coleções de bactérias e fungos nativos que podem ser benéficos para a videira.

Também citado no comunicado, o engenheiro agrónomo e membro do iB2 Lab, João Prada, esclarece que "há fungos e bactérias que são benéficos e que têm características que podem potenciar o uso de água da planta, a absorção de nutrientes e até as defesas da planta em relação aos patógenos que estejam no solo".

O projeto, que decorre até 2025, envolve investigadores portugueses, italianos, turcos e marroquinos. Em Portugal, o consórcio conta também com especialistas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Cada país do consórcio vai ter uma coleção de bactérias nativas, sendo que em Portugal estão atualmente a ser selecionados, em laboratório, alguns microrganismos que promovem o crescimento e desenvolvimento das videiras.

Em Portugal, o trabalho de campo decorre nas três sub-regiões do Douro: no Baixo Corgo e no Cima Corgo em duas quintas da Sogrape, e no Douro Superior em vinhas da empresa Gerações de Xisto.

A investigação foca-se também no estudo e utilização de plantas fixadoras de azoto (como as leguminosas), que podem ajudar o solo a reter água e tornar mais eficiente a nutrição das videiras.

Já o bio-hidrogel a partir de resíduos da poda será desenvolvido pelos investigadores da Turquia e aplicado nas vinhas do Douro, tendo em vista a retenção de água no solo.

“A ideia é aproveitar um recurso numa lógica de económica circular, utilizando resíduos que, de outra forma, teriam de ser eliminados”, acrescenta a FCUP.

O projeto é financiado em cerca de 761 mil euros pelo PRIMA, um programa da União Europeia para a investigação e inovação em soluções para a região mediterrânica, sendo que do financiamento total, as duas instituições portuguesas receberam 250 mil euros cada.

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