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Como esquecer o trabalho e os negócios em férias: quem é que realmente manda aqui?

Veja as sugestões para desconectar em férias

Mário Ceitil, Professor no ISCTE/Executive Education e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APG
2 ago 2023, 09:23
Mário Ceitil, Professor no ISCTE/Executive Education e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APG
Mário Ceitil, Professor no ISCTE/Executive Education e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APG

Desconectar, num mundo em que tudo parece apelar a que estejamos conectados em permanência, através dos muito variados e criativos meios e dispositivos digitais ao nosso dispor, não é uma tarefa fácil. A questão que se coloca, no entanto, é se é uma tarefa importante.

E a resposta hoje parece ser cada vez mais clara: desconectar das questões profissionais, em momentos que, em princípio, deveriam ser dedicados à vida pessoal, fazer pausas que sejam estruturantes do nosso equilíbrio físico e mental e sermos capazes de fazer coisas diferentes em momentos diferentes e entregarmo-nos totalmente a cada uma delas com “alma e coração”, é não só importante, como é uma condição reconhecida hoje como indispensável para mantermos, de forma saudável e sustentável, um bom “work/life balance” que é, no fundo, a principal condição para o nosso bem estar subjetivo e para a nossa felicidade pessoal.

Esta questão assume um particular relevo e, em muitos casos, uma particular gravidade quando estamos em férias. De facto, pela pressão associada aos desafios profissionais e pelo stresse provocado pela exigência da obtenção de resultados, é cada vez maior o número de pessoas que, mesmo quando estão em férias, não são capazes de fazer o “corte” do trabalho e dos negócios, transformando as suas férias e as dos seus familiares, num autêntico “paraíso infernal”.

A boa notícia é que tal situação não é necessariamente “fatal como o destino” e pode (e deve) ser alterada.

Aqui estão algumas sugestões que podem ser úteis para “desconectar em férias”, mas também alguns “avisos à navegação”.

1- Clarifique as suas “verdadeiras” prioridades

Nem sempre aquilo que acreditamos e afirmamos como sendo prioritário corresponde àquilo que realmente sentimos como tal. Como a nossa mente é influenciada pelas emoções, preste atenção ao que sente relativamente às suas fontes de gratificação pessoal. É que há pessoas que, embora digam repetidamente que a sua vida pessoal e familiar é o que mais lhes interessa, na verdade sentem que é o trabalho a sua principal fonte de realização pessoal.

2- Planeie antecipadamente as suas férias e ocupe o seu tempo, e a sua mente, em atividades pessoais com significado para si.

Há pessoas que padecem da “doença” de “aversão ao ócio” e a pior coisa que lhes pode acontecer é “não terem nada para fazer”. Por isso, e para evitar aquela sensação desconfortável de “então e agora o que vamos fazer?”, planeie previamente as suas férias e não deixe tudo para “a última hora”. Procure preencher os seus dias de férias com atividades que lhe deem prazer e que tenham significado para si.

3- Programe a sua mente para aceitar que o descanso é pelo menos tão legítimo e importante quanto o trabalho.

Liberte-se daquele tipo de ansiedade do “há sempre qualquer coisa que está para acontecer, há sempre qualquer coisa que fazer”. O nosso cérebro precisa de se recompor dos grandes dispêndios de energia resultantes da sobrecarga de responsabilidades e de stresse. “Recarregar baterias” é, pois, um requisito essencial para a produtividade pessoal sustentada.

4- Domine a tecnologia e não se deixe dominar por ela.

Os discursos do tipo “estou sempre a receber telefonemas, mails e WhatsApp” que tenho de atender”, é um “alibi honroso” para justificar a nossa dependência da tecnologia. Na verdade, somos nós que aceitamos (ou não) responder e não a tecnologia e os agentes externos que impõem a resposta. Assim como uma grande percentagem das coisas que nos preocupam, não chega realmente a acontecer, também é verdade que a maior parte dos contactos que recebemos não é de facto importante.

5- Aplique “boas práticas” de programação e organização do seu tempo para viver melhor as suas férias

Para criar melhores condições para usufruir plenamente do “merecido descanso”, há algumas questões muito práticas e concretas que pode fazer em termos da sua organização pessoal. Aqui vão algumas sugestões:

- Para conseguir ter a mente mais livre, é fundamental não deixar “pontas soltas” no trabalho. Por isso, procure deixar o máximo das suas tarefas profissionais realizadas antes de ir para férias e, na medida do possível, não deixe assuntos pendentes.

- Informe os seus colegas de trabalho de que vai estar ausente, delegue algumas atividades que podem ser delegadas e coloque o seu mail em modo de resposta automática.

- Discipline-se para, em férias, desligar o telemóvel o mais tempo possível. Para isso, é sempre útil e facilitador ter um telemóvel pessoal e outro profissional, o que permite maior flexibilidade na gestão dos seus contactos.

- É sempre preferível “deixar o inimigo às portas”, ou seja, deixar os dispositivos tecnológicos em casa. Se os mantiver consigo, não esteja sempre a olhar para a máquina. A sua vida é aquilo a que presta atenção. Se mantiver a sua atenção sempre condicionada pela tecnologia, pode perder momentos de oportunidades relacionais importantes.

- Se for realmente imperativo arranjar algum tempo para tratar de questões profissionais, defina os seus “timings” …e respeite-os. Pode, por exemplo, definir previamente um dia, ou partes do dia, para se ocupar dessas tarefas, mas não fique com a sua mente ocupada com isso durante o resto do tempo.

- Por último, aproveite as férias para se dedicar a atividades ao ar livre e em contacto com a natureza, fundamentais não só para nos sentirmos revigorados tanto do ponto vista físico como mental, mas também, e talvez sobretudo, para podermos fruir a apaziguadora sensação de, sendo únicos, pertencermos a algo de mais belo e superior a nós.

As ideias aqui apresentadas e as sugestões para melhorar a sua gestão e organização pessoal em tempo de férias, não são seguramente, nem pretendem ser, exaustivas. No entanto, talvez sejam úteis, se as quiser realmente pôr em prática.

Por elas perpassa sempre a mensagem proativa de que a nossa vida depende muito mais das escolhas que fazemos do que das contingências e acontecimentos externos. Por isso, vale sempre a pena insistir que, na gestão das nossas férias e, por extensão, na gestão das nossas vidas, “quem manda aqui…somos nós”.

Quanto ao resto, enfim, “feche a loja” e vá de férias descansado.

Este artigo de opinião foi escrito no âmbito da colaboração com o Link to Leaders

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