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OPINIÃO | Hope!

Veja a opinião de Ricardo Monteiro, comentador de política internacional e economia, sobre o momento que Portugal atravessa

Ricardo Monteiro, comentador de política internacional e economia
17 nov 2023, 11:30
Ricardo Monteiro, comentador de política internacional e economia
Ricardo Monteiro, comentador de política internacional e economia

Já lá vão muitos anos desde que Barack Obama ganhou as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Fê-lo sob a bandeira da Esperança invocada num poster de campanha genial em que, sobre a palavra Hope, se via a cara do jovem candidato.

Mensagem simples que galvanizou um país vasto e díspar a votar num jovem candidato diferente, membro de uma improvável minoria étnica. É num momento semelhante que Portugal se encontra. Depois dos dois mandatos de George W Bush e do seu inenarrável e anti-democrático vice-presidente Dick Cheney, os Americanos estavam mergulhados num momento de profundo ceticismo e desconfiança no país e nas suas instituições. Assim estamos nós.

Oito anos de poder centrados num homem que influenciou tudo e todos à sua volta, ministros e secretários de Estado que serviram a seu bel-prazer, descartados quando expressavam uma opinião, mas segurados até à exaustão quando apanhados a prevaricar. Exerceu um poder quase imperial sobre o país, condenando-o e um crescimento económico medíocre, muito abaixo do necessário, adotando uma postura assistencialista para cativar clientelas dependentes e cobrando mais e mais impostos a uma classe média exausta e exangue.

Fê-lo com um sorriso nos lábios e a inflexibilidade arrogante de quem pensa ser dono da verdade. E, pouco a pouco, foi minando a nossa força anímica, a nossa capacidade de acreditar que mudar é possível. Em nada foi essa perda de esperança mais evidente que na crescente emigração dos nossos jovens licenciados dos quais 40% rumam todos os anos ao estrangeiro, procurando melhor vida. Os salários são baixos, as casas são caras, os impostos são altos e todos caminhamos, ano após ano, por este “Caminho da Servidão”(*) no fim do qual um “Leviatã”(*) nos espera, essa figura hobbesiana à qual cedemos todo o poder de decisão em troca do pequeno subsídio, de uma magra pensão, de um ínfimo salário - todos parcos, mas seguros, e pelos quais é suposto mostrar-nos agradecidos, senão vivendo, pelo menos sobrevivendo. Paz em troca de liberdade.

Mas, tal como nos tempos de Obama, é chegado o momento em que os nossos jovens, as nossas classes médias, os médicos, os professores, os pequenos e médios empresários, todos nós devemos gritar bem alto “Yes, we can”:

-Podemos criar empresas.

-Podemos criar riqueza.

-Podemos aumentar salários.

-Podemos baixar impostos.

-Podemos ter saúde pública.

-Podemos ter educação de qualidade.

-Podemos ter um Estado Social.

- ... e queremos decidir por onde ir e como lá chegar.

Para tal basta apenas libertar-nos desta canga que pesa sobre nós, destas pessoas que pensam saber melhor do que precisamos do que nós próprios (**), deste grupo de pessoas que decide em câmaras de ressonância onde apenas se ouvem a eles próprios, deste grupo incestuoso de políticos profissionais mas incompetentes que nos atirou para o estado de inanidade em que nos encontramos.

Hope! Yes we can!

(*) Mesmo para quem não goste de ler filosofia política está na hora de ler ou reler esses dois pilares do pensamento político e económico, “O Caminho da Servidão” do liberal Friederich Hayek e “Leviatã”, de Thomas Hobbes, onde se advoga o absolutismo a troco da paz real e social.

(**) O Estado recolhe 48.000 € por cada família portuguesa de 4 pessoas, a mesma que apenas tem 38.000 € de renda mediana bruta se houver dois titulares. Ou seja, gasta mais em seu nome do que lhes permite ganhar.

Este artigo de opinião foi escrito no âmbito da colaboração com o Link to Leaders

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