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Ouvir áudios e ver vídeos a velocidade aumentada tem riscos para o cérebro. Saiba o que dizem os médicos

Mensagens ouvidas e vídeos vistos ao dobro da velocidade normal é uma tendência e um hábito cada vez mais comum

Andreia Vital
5 abr, 15:32

Sabia que é possível reproduzir áudios de Whatsapp, ver um vídeo no Youtube ou mesmo uma série na Netflix ao dobro da velocidade normal? Se desconhece esta funcionalidade, provavelmente a sua juventude já está um pouco lá atrás. Isto porque, atualmente, a maioria dos adolescentes e jovens adultos recorre a esta funcionalidade, que oferece aliás várias opções de aumento de velocidade desde 0,25 vezes mais rápido a 2 vezes mais rápido.

"Mudei a velocidade de reprodução do áudio em plataformas como o WhatsApp ou o Telegram. Também em alguns vídeos tutoriais do YouTube. Faço-o para ter respostas imediatas, principalmente se forem questões de trabalho, para não perder tempo", explicou ao jornal espanhol El País o jovem Diego Ferraz.

Num artigo dedicado a este hábito, que motiva preocupação por parte dos neurologistas, o El Pais conversou com utilizadores de redes sociais e médicos para entender o impacto desta tendência. "A 1,5x é fácil, mas a 1,75x ou ao dobro da velocidade muitas vezes tenho de voltar atrás", reconhece Diego Ferraz. O hábito chamado de "speedwatching" (visualização rápida) é cada vez mais comum em todo o tipo de plataformas, desde mensagens instantâneas até Netflix, TikTok ou Spotify.

Tal como escreve o jornal espanhol, recorrer a esta funcionalidade, advertem os neurologistas, pode afetar a memória a curto prazo, faltando ainda estudos que se debrucem sobre os efeitos a longo prazo.

No YouTube, os vídeos podem ser acelerados desde 2010, mas a mudança real ocorreu quando o WhatsApp, a plataforma de mensagens mais descarregada do mundo incorporou esta possibilidade para a reprodução dos seus áudios em 2021. Agora, em redes sociais como o TikTok, também é possível aumentar a velocidade de reprodução. E vai além disso: Netflix ou Amazon Prime permitem ver as suas séries e filmes a diferentes velocidades.

Mas, que consequências existem por recorrer a esta forma acelerada de consumo de conteúdo? Para Diego Redolar, professor de neurociência da Faculdade de Psicologia na Universidade Aberta da Catalunha, existem riscos e benefícios. "Quando ouvimos uma mensagem mais depressa, reduzimos o tempo de audição, mas perdemos muitos dos aspetos relacionados com a própria mensagem. Nesta linha, destaca a prosódia, que é a forma emocional como interpretamos essa mensagem: as pausas, as inflexões da voz, o tom, etc. Cada vídeo ou áudio tem uma complexidade específica que a torna única. Para não mencionar que uma obra cultural, como um filme, é pensada com seus silêncios", explica ao El Pais.

Para ouvir um áudio mais depressa, é preciso concentrar-se mais. Tudo isso resulta numa tendência cada vez maior para uma capacidade de concentração intensa, mas mais curta no tempo. Num cérebro em desenvolvimento - até aos 25 anos – há, por isso, riscos.

Embora já existam estudos que alertam que o uso do WhatsApp pode prejudicar a memória dos mais jovens, Diego Redolar adverte que nesta fase da vida o cérebro "ainda é muito plástico em função da interação com o ambiente".

"O uso de novas tecnologias em idades de aprendizagem modifica certos padrões. Especificamente, a visualização de conteúdos a alta velocidade pode dificultar os processos analíticos para a aquisição da mensagem", explica o especialista, que alerta para os riscos nas redes neurais da atenção dos jovens, "que podem ser modificadas se uma criança se habituar a ter a informação de uma forma mais rápida". De qualquer forma, sublinha, ainda faltam estudos a este respeito.

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